O Circo da Política: Entre Palhaçadas Ideológicas e Bolsos Cheios

 

O Circo da Política: Entre Palhaçadas Ideológicas e Bolsos Cheios


O Circo da Política: Entre Palhaçadas Ideológicas e Bolsos Cheios


Há qualquer coisa de fascinante – e ao mesmo tempo profundamente deprimente – no atual estado da política em Portugal. Não, não é a esquerda. Não, não é a direita. 


É o facto de passarmos os dias a discutir estas etiquetas caducas como se fossem clubes de futebol e esquecermos o que realmente importa: a completa e absoluta falta de qualidade dos políticos que temos a desgraça de tolerar. A sério, se fosse possível medir a competência com o mesmo rigor com que medimos a baliza do VAR, não havia parlamento que resistisse.

É tudo um circo. Mas não um circo engraçado, daqueles com palhaços que caem de propósito e malabaristas que desafiam a gravidade. Não, isto é mais um circo sinistro, onde os palhaços levam tudo a sério e os malabaristas só desafiam as leis... do código penal. E nós, o público pagante, sentados na bancada, fingimos que estamos entretidos enquanto roubam a bilheteira.


Esquerda vs. Direita: A Guerra Inútil que Distrai do Essencial


A conversa da moda é sempre a mesma: esquerda versus direita. Como se isso ainda significasse alguma coisa. Como se o problema não fosse, na verdade, o oportunismo transversal que une todos os lados dos espectros políticos que mais parece um carrossel. A cada escândalo que surge – e são tantos que é difícil lembrar todos sem uma app para notificações – lá vêm os especialistas de sofá discutir se "isto é culpa dos socialistas" ou se "isto é coisa dos liberais". Pois, meus amigos, é culpa de todos. A corrupção não tem ideologia, mas tem sempre um cartão de partido no bolso.


Políticos Profissionais: Quando a Carreira Vale Mais que o País


E já que falamos em bolsos, podemos abordar a questão do "político profissional"? Este espécime moderno que transformou a política numa carreira – e não num serviço – é um verdadeiro insulto ao ideal democrático. Já ninguém quer ser político porque acredita no país, porque quer servir o povo, porque tem uma visão de futuro. Não. Querem ser políticos porque é mais seguro do que ser empresário e dá mais status do que trabalhar no café da esquina. Além disso, uma vez lá dentro, é o jackpot: um ordenado simpático, umas viagens pagas pelo contribuinte, e, se for esperto, um cargo numa empresa pública para quando a maré política virar. É uma missão, sim – mas só se a missão for enriquecer às custas do erário público.


O Amor ao País: Uma Ideia Fora de Moda


E aqui está o problema de fundo: ninguém fala do amor ao país. Quem é que ainda ama este país? Falam de orçamento, de crescimento económico, de "resiliência" (uma palavra que deviam banir por abuso), de SNS, de ensino e mais uns quantos chavões como os diversos "ismos", mas ninguém fala do que significa ser português. Nenhum político olha para Portugal como um lugar para proteger, para cuidar, para melhorar. Olham para o país como um tabuleiro de Monopoly, onde a única estratégia é comprar barato, vender caro e escapar à cadeia com um cartão especial.


A Culpa é Nossa: O Público que Aplaude o Circo


Se ser político fosse uma missão, talvez tivéssemos outro tipo de pessoas no poder. Pessoas que sentissem a responsabilidade de representar mais do que a si próprias e os seus interesses. Mas, para isso, era preciso mudar tudo. Menos panelinhas, mais princípios. Menos discurso, mais decência. Menos esquemas, mais seriedade. Parece impossível, não é? Pois. 

Mas talvez o verdadeiro problema seja que nós, os eleitores, já nos habituámos a este espetáculo deprimente. E enquanto não exigirmos melhor, vamos continuar a ver este circo sem palmas. Afinal, quem precisa de aplausos quando se tem os bolsos cheios?


Paulo Brites
2025.01.25 


Politica - Atualidade - Sociedade

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