Versos de Amor na Voz dos Poetas
O amor, essa ausência tão presente,
que em nós cresce como raiz de sombra.
Vejo-o em Pessoa, o poeta ausente,
que em versos vazios do mundo se assombra.
Camões, com sua espada e sua pena,
fez da dor glória e da distância mar,
e amou nas rimas que o coração ordena
o impossível rosto, o eterno esperar.
Florbela, aquela que tudo amou,
sentiu o amor como febre e clamor,
e nos versos de angústia se entregou
ao espelho quebrado do seu próprio ardor.
O amor, quem o sabe? Eça riria,
chamando-o capricho ou vaidade cega.
Mas, ah, se até o riso, em melancolia,
mostra que o amor no peito se apega.
E Guerra Junqueiro, em fúria e pranto,
cantou Portugal e as suas feridas,
amando o país com um fervor santo,
como quem ama as sombras perdidas.
Antero, na sua procura e filosofia,
tornou-se mártir de um sonho maior.
Amou no pensar, no além que feria,
e no amor achou dúvida e dor.
Assim, em cada poeta, em cada lamento,
o amor se molda, se faz e se desfaz.
É destino, é sonho, é desalento,
e em nós vive, eterno, sem nunca ter paz.
Ó Portugal, de amores és feito,
como o Tejo que flui e nunca descansa.
Em ti o amor é prece e é defeito,
e quem ama, no fundo, nunca alcança.
Paulo Brites
Nov/2024
Albufeira - Poemas - Paulo Brites
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