Faltaram Nomes e Sobraram Silêncios: Isso diz mais sobre Nós do que sobre Ti Diogo Jota

 
Faltaram Nomes e Sobraram Silêncios: Isso diz mais sobre Nós do que sobre Ti Diogo Jota


Faltaram Nomes e Sobraram Silêncios: Isso diz mais sobre Nós do que sobre Ti Diogo Jota



Morreu o Diogo Jota. Sim, esse. O do Liverpool. O miúdo de Massarelos que jogava com aquela estranha mistura de velocidade e ternura, como se estivesse a pedir desculpa antes de marcar golo. Não foi só um jogador. Foi um daqueles homens raros que fazem o futebol parecer outra coisa — uma coisa melhor, mais justa, mais humana.

E foi por isso que a sua morte — tão cedo, tão sem sentido, tão cruel — nos tocou de maneira diferente. Não foi só um jogador que se perdeu. Foi um exemplo. Foi alguém que nos lembrava que a ambição não tem de ser arrogante e que o talento, às vezes, ainda aparece em rapazes com cara de boa pessoa, tal como acontece com Bernardo Silva e outros.

As homenagens apareceram, claro. Os adeptos. As crianças com as camisolas do Wolverhampton choradas a meio das aulas. O Everton que é somente o maior rival do Liverpool também esteve presente! Os ingleses (sempre mais sérios nestas coisas do que nós) fizeram silêncio comovido em Anfield, e até o Klopp, sempre com aquele ar de quem está prestes a explodir de emoções, deixou escapar uma lágrima disfarçada de suor.

Mas cá… cá foi estranho. Cá foi aquele silêncio que só Portugal sabe fazer: o silêncio das ausências. O silêncio do embaraço e da falta de comparência.

Cristiano Ronaldo? Pouco. Mas tudo bem — cada um sofre à sua maneira. Mas não deixa de doer, esse vazio vindo de quem devia ser exemplo de presença, e não só de golos. O vazio do capitão que deveria comandar toda a seleção e de forma oficial. 

Também não apareceu o Benfica. Nem o Sporting. Os dois grandes clubes que, sendo justos, nada tinham de obrigação formal para estarem lá. Mas será que era preciso haver obrigação? Num país pequeno, onde todos se conhecem, onde todos deviam estar juntos pelo menos uma vez — nem que fosse só para um último aplauso?

O FC Porto esteve. Ainda bem. Porque o futebol português precisa de coração, e não apenas de títulos. Embora com declarações tristes do seu presidente. Mas o que ficou, no fim, foi esse sabor amargo a país pequeno demais para grandes gestos.

Não falo de política, nem de rivalidades. Falo de humanidade. Falo da falta que fez ver antigos colegas, antigos adversários, treinadores, roupeiros, gente que passou pela vida do Diogo e que não passou, desta vez, por onde devia. Falo daquele tipo de presença que não se mede em camisolas vestidas, mas em respeito. Em memória. Em decência.

Jota foi — e continua a ser — daqueles que nos lembram que se pode ser bom jogador e bom homem. Que se pode brilhar sem ofuscar. Que se pode partir o mundo com os pés e com a cabeça (embora relativamente baixo), sem esquecer de onde se veio.

Hoje, Portugal (principalmente o mundo futebolístico) devia estar unido. Em silêncio, mas presente. E não estava. E isso, por muito que custe dizer, diz mais sobre nós do que sobre ele.

Diogo e André, que descansem em paz. 


Paulo Brites
2025.07.05


Efemérides


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